De janeiro a junho de 2025, foram 424 procedimentos, um aumento de quase 4% em relação ao mesmo período do ano passado Michele Horovits,...
De janeiro a junho de 2025, foram 424 procedimentos, um aumento de quase 4% em relação ao mesmo período do ano passado
Michele Horovits, da Agência Saúde-DF | Edição: Natália Moura
Quando o telefone tocou pela oitava vez, Ingrid Aparecida Batista do Carmo, 32, ainda não tinha certeza, mas a sua vida mudaria a partir dali. Um novo fígado chegava. Era o órgão que diminuiria o mal-estar e as limitações, permitindo que o mundo voltasse a ser grande. “Foi um misto de alívio, medo e gratidão. Hoje, vivo uma outra fase. Consigo pensar em fazer uma viagem, voltar a estudar, trabalhar", conta, cheia de planos.
Em
2021, Ingrid foi diagnosticada com hepatite autoimune e iniciou o
tratamento no Hospital Regional de Ceilândia (HRC). Depois de dois anos,
a terapia deixou de ser eficaz. “Passei a me sentir muito mal, não
conseguia mais trabalhar. Então, fui encaminhada ao Instituto de
Cardiologia e Transplantes do Distrito Federal (ICTDF). Logo na primeira
consulta os médicos confirmaram que eu precisava de um transplante com
urgência. Foi um choque”, lembra.

O
transplante veio no final de dezembro de 2024 e o passado foi virando o
que deveria ser: memória e não presença. “Todos os dias eu vomitava.
Vivia enjoada, sempre amarela, sempre mal. Depois do novo fígado, esses
sintomas passaram. A equipe do ICTDF e a minha família fizeram toda a
diferença. Sem eles, eu não seria nada. São pessoas iluminadas", destaca
Ingrid.
Transplantes no DF
De janeiro a junho de 2025, a Secretaria de Saúde (SES-DF) realizou 424 transplantes, um aumento de quase 4% em relação ao mesmo período do ano passado. Os procedimentos envolvem órgãos e tecidos (rim, fígado, coração, córneas, pele e medula óssea), executados em unidades como o Hospital de Base (HBDF), Hospital Universitário de Brasília (HUB) e o ICTDF - este último por meio de contrato com a pasta.
A
rede pública de saúde da capital vem se destacando - e com
exclusividades no DF: o transplante de pele, por exemplo, é feito apenas
no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Já o de medula óssea
pediátrico autólogo - no qual são utilizadas células-tronco do próprio
paciente - é ofertado no Hospital da Criança de Brasília José Alencar
(HCB).

Doação
No
âmbito do DF, a coordenação das atividades de transplantes é feita pela
Central Estadual de Transplantes (CET-DF). Sua atuação abrange tanto a
rede pública quanto a particular. Dentre as responsabilidades do setor
estão gerenciamento do cadastro de potenciais receptores, recebimento
das notificações de morte encefálica, promoção da organização logística
da doação e captação estadual e/ou interestadual, bem como a
distribuição dos órgãos e/ou tecidos removidos na capital federal.
Nesse
lado do processo, há um intenso e sensível trabalho, principalmente das
equipes responsáveis pela captação dos órgãos. “O momento mais difícil é
a entrevista com a família que perdeu alguém. É um instante de luto, de
dor profunda. É preciso equilibrar o que deve ser feito, que é
esclarecer a importância da doação, e a sensibilidade para não
desrespeitar quem está sofrendo", explica a chefe do Banco de Órgãos do
DF, Isabela Rodrigues, na área há 19 anos.

Apesar
da distância ética que impede o contato direto com os receptores,
alguns pacientes transplantados procuram a equipe para agradecer. “De
vez em quando aparece alguém dizendo que só teve uma chance de viver
melhor por causa daquela doação. É emocionante", diz a gestora.
Especialistas e pacientes, contudo, defendem que o sistema de transplantes precisa de consciência coletiva. “Falta cultura de doação. Às vezes, a pessoa queria doar, mas a família não autoriza porque nunca conversou a respeito. "A gente precisa falar mais sobre o assunto, em casa, com amigos, como quem defende o amor à vida”, afirma Rodrigues.
Da redação do Portal de Notícias
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